domingo, 16 de outubro de 2011

Desesperança

Há, naquela cidade pequena, algo que a faz triste.
Talvez porque traga no próprio nome
a pluralização do sofrimento físico.
As águas do rio, que não a banham,
Não podem levar pra longe as suas dores.

Nem mesmo o sol que permeia a copa das árvores
E fica ali peneirado, espalhado no chão (tão bonito de se ver!)
Pode entender porque sua luz não ilumina aquele canto.

Embora riam, os moradores se fazem tristes quando sozinhos.
Quando recolhem os tamboretes do alpendre,
Levam também, pra dentro da casa, a noite que cai.

Tão mansa e morna, a noite chega,
envolvendo a cidade retraída e triste.
Recolhida em si mesma nem reparou as estrelas –
tão abundantes!
Espera somente que venha mais um dia.

E tudo de novo, do sol à lua, do dia à noite,
Estende-se o tempo, cumpre-se a vida,
Alegria por quê? Perguntam-se os moradores
Se todo dia se faz, igual e pra sempre.

É um novo dia, a luz anuncia. Mas logo entende
Que por ali não nascerá alegria.
É ano novo, alguém se arrisca. Mas logo compreende
Que ali esperança nenhuma vingaria.

Arrasta-se o tempo naquela cidade,
Na poeira das ruas, em Minas Gerais.