domingo, 7 de outubro de 2012

Se essa rua fosse minha...


Sentadas no alpendre, minha mãe e eu olhávamos as crianças brincando.
Sobre  nós um silêncio de final de tarde - instante inefável.
Parecíamos cada uma em uma época,
Unidas pela presença uma da outra.
Lá fora a vida corria nos pés das crianças,
Que disso não sabiam – nem do tempo,
Coisa que só se descobre bem tarde.

De repente o tempo presente  soprou sobre nós a sua existência,
Em forma de brisa que pareceu despertar minha mãe.
E ela disse bem baixinho,  quase um lamento:
- Sinto tanto a falta de minha mãe... uma saudade tão grande!
Eu olhei para ela sem nada dizer – não podia!
Os seus olhos estavam encobertos por uma névoa
Que, eu acho,  se chama saudade.
Eu não sabia como ele, o tempo, pudera buscar lembrança tão distante!
Eu não sabia que o amor podia durar tanto!

Levantei-me e beijei os seus cabelos.
Foi nesse instante que notei como estavam brancos...
Então os meus olhos também se cobriram de névoa.