sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cedro


Me dê uma centelha ou um facho de luz – tanto faz.
Qualquer coisa que em minhas noites insones
Me faça crer  em encantos – recantos.
O clarão que alumia as lembranças mostra (quase sempre)
o que não quero ver – não quero ter.

Preciso abrir os meus braços, o meu peito,
e me deixar escapar – deixar de ser.

O vento que assopra os meus cabelos não me acarinha.
É noite de verão, mas parece inverno.
Faz frio, muito frio.

Lá, aonde nasci, as ruas eram feitas de areia branca.
Eu sabia do rio, mas nunca o vi. Eu o imaginava tão bonito!
Hoje o asfalto redesenha a cidade com recortes escuros.
Havia uma casa azul – caiada com tinta barata.
Mas era azul.  E o céu também.

Isso é o que faz cintilar as minhas lembranças. É o me que basta.
É a fagulha que acorda sentimentos indefinidos:
a essência, o cheiro de manacás trazido pela brisa branda
que areja as minhas lembranças.
Mas não me acarinha.