quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Névoa de nada


Na terra, nos mares, nos ares,
O que faz germinar, multiplicar e que se
Estende sobre tudo – estás simplesmente.
E também no infinito, o todo - absoluto.
O céu e tudo o que nele ostenta.
Tão longe – inacessível.

És a vida que alimenta cada uma das células deste corpo
Porque o habitas – foi quem o criastes.
Ao mesmo tempo em que, se quiseres,
com poder supremo, o abraça
E o apequena.
Estás por toda parte. Tudo a ti pertence.

Estás tão perto e tão distante e tudo a ti volta.
És modesto como um olho d’água – o ponto de partida,
Mas também o trajeto e o mar aonde tudo deságua:
A tristeza profunda e a alegria desmedida
- o destino. Poderoso.

Somos somente aquilo que se perde,
que não se sustenta por si.
Somos a cria, a criatura, o fim em nós mesmos,
o pó que, depois de tornado vivo, feliz ou infeliz,
volta a ser pó.

Os meus braços se erguem porque assim o queres,
e se assim não queres,
Dirigem-se humildes, aflitos, em tua direção.

Absoluta a tua existência, absurda a minha.
Estás dentro de mim e sobre mim derramas toda a glória
E eu me sinto tão imperfeito.
És o soberano, o que não se explica.
E eu, o que sou senão pó,
a névoa,
o nada?

Foto: Uol

6 comentários:

  1. ..somos 'névoas de nada' mas alguns de nós conseguem ultrapassar isso criando coisas belas: esse poema que você escreveu é um exemplo. Gostei demais.
    bj

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  2. E o sentido da vida é... Mas do que saber, é preciso viver. A vida não é, se constrói. O importante é o contentamento com a vida, a gratidão pelo privilégio de viver, a vontade de continuar vivendo, construindo o viver. Muito boa a maneira como você expressou a fragilidade e incompletude do ser humano diante da vida. Muito bonito o texto. Parabéns Anamaria!

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  3. Parabéns pelo texto, você é uma grande escritora !!! :D Bjs

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  4. Olá

    Palavras
    que nos fazem pensar,
    são tributos a esperança...

    Que o amor nos vista a vida,
    com as suas mais preciosas cores...

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  5. Somos parte de uma totalidade e sobre isso não tenho dúvidas! O texto parece óbvio, mas não é! Valeu a reflexão, Ana! Bom domingo!

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