quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

De Dores e flores


Flores doloridas do Indaiá
Que às margens dele florescem.
Serão flores, serão dores
Que nem as margens dele conhecem.

Penso nas flores distraídas à beira do Indaiá
Nascidas ali por vontade de passarinho
Mas, são dores – de um rio que não margeia
Uma cidade que sequer conhece o seu caminho.

Bem poderiam trocar seu nome para flores
Talvez Nossa Senhora gostasse mais
De ser das flores ao invés das dores.

Foto: Danielli Vargas

domingo, 10 de dezembro de 2017

Por que tinha que ser assim?


Da janela do ônibus eu olho mais uma vez
O que vai passando, o que vai ficando.
Ainda é muito cedo.
Tão cedo que a neblina da noite ainda não se dissipou.
O ônibus transporta também a solidão
Tudo em volta é denso
Como a névoa que envolve o ônibus
Como a solidão que me envolve

Olho ainda uma vez pra fora
No muro antigo que nada impede
Alguém deixou uma frase
Vê-se que lá ela vive há muito
E pergunta a todos que por ali passam
“Por que tinha que ser assim?”

sábado, 10 de junho de 2017

Minguante


Visto-me de silêncio.
Sou agora o que não se importa.
Vejo-me e minha figura se decompõe em lembranças
Que se revelam em cores, sons e movimentos
E me fazem esmorecer.
Visto-me novamente.
Eu agora sou só tristeza.
Tento me lembrar de cada palavra -
tantos gestos inacabados -
Como a recriar cada ato.
E agora sou só ressentimento.
Visto-me mais uma vez
Sou só cansaço.
Olho ao redor a procurar com que me vestir.
E eu sou só uma vontade indefinida.
Começo lentamente a despir-me
E agora sou só eu.

Só.

Foto: Lásara